Nos primeiros 15 meses do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a Polícia Federal (PF) se desentendeu com instituições importantes da política brasileira. O Exército, a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Ministério Público (MP) e a Polícia Civil do Rio de Janeiro estão na lista.
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, os motivos dos atritos são diversos: investigações de outros órgãos, tentativa de ampliar poderes e disputa por espaço próximo ao presidente da República. Os desgastes podem atrapalhar algumas operações, uma vez que a Polícia Federal trabalha em parceria com essas instituições.
Os conflitos da Polícia Federal com o GSI
Com o GSI e os militares, por exemplo, os atritos surgiram pela briga para decidir quem seria responsável por fazer a segurança pessoal de Lula e da primeira-dama, Janja.
No início do governo, o petista assinou um decreto com validade de seis meses para criar a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República, que passou para a PF a incumbência de parte da proteção presidencial. Embora o período fosse de apenas seis meses, a cúpula da polícia tentou estender a medida.
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A influência do delegado da Polícia Federal Andrei Rodrigues não foi suficiente, e a coordenação da proteção de Lula voltou para o GSI, comandada pelo general Marcos Antonio Amaro.
A colisão entre a Polícia Federal e a Abin
Em relação à Abin, os conflitos com a Polícia Federal já custaram até a demissão do número 2 da agência, o ex-diretor Alessandro Moretti, em janeiro. O nome dele apareceu em um relatório da PF sobre o suposto uso da Abin no governo Jair Bolsonaro (PL) para espionar adversários políticos.
De acordo com o documento, em uma reunião com representantes de servidores da Abin, em março de 2023, Moretti teria dito que a investigação sobre a agência tinha “fundo político” e iria passar.
Na avaliação da PF, houve “conluio de parte dos investigados” com parte da alta gestão da Abin, o que prejudicaria a investigação e a própria agência.
Em relação à Polícia Rodoviária Federal (PRF), a PF indiciou 23 policiais rodoviários por uma operação conjunta em Varginha (MG), que resultou na morte de 26 criminosos. Ambas as corporações estão sob o comando do Ministério da Justiça.
Conforme o documento da PF, o delegado do caso afirmou que o órgão não tem poder para tocar apurações e fez críticas à atuação dos integrantes da PRF nesse episódio. Em resposta, a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais acusou a PF de abandonar a população.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Exército
Com relação à Polícia Civil do Rio de Janeiro, o relatório da PF mostrou que o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), definiu a polícia como um “ecossistema criminoso”.
Além disso, delegados da Polícia Civil se queixavam do excesso de agentes federais na estrutura da Secretaria de Segurança na gestão José Mariano Beltrame (2007-2016). O atual titular da pasta, Victor Cesar Carvalho dos Santos, também é delegado federal.
O Ministério Público
O relacionamento entre a Polícia Federal e o Ministério Público ficou próximo, inclusive, no avanço de investigações. Além da apuração da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), a PF e o MP-RJ atuaram lado a lado em inquéritos contra Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, apontado como líder da maior milícia do Estado.
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Contudo, na semana passada, o relatório da PF sobre o caso de Marielle Franco contém críticas ao MP. Conforme o texto, a PF acusou a pasta de resistir a uma federalização da investigação, o que dificultaria a apuração.
Em resposta, o MP-RJ divulgou uma nota, na quinta-feira 28, afirmando que “não medirá esforços para enfrentar as vis tentativas de desqualificar o trabalho executado”, sem citar diretamente a PF.
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