Presidente dos Correios tem assessores investigados na Lava Jato

O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos — nomeado para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, tem entre seus assessores dois clientes do escritório de advocacia da ex-mulher, ambos com histórico de condenações administrativas.

Júlio Vicente Lopes e Maurício Marcellini foram alvo do Ministério Público Federal (MPF) em investigações da Operação Greenfield, parte da Lava Jato que apurou desvios em previdências de empresas estatais. 

Lopes atua na presidência dos Correios, em Brasília, e responde a pelo menos duas apurações administrativas. Já Marcellini é assessor especial do presidente da estatal e é alvo de seis ações do MPF, por gestão fraudulenta e improbidade administrativa.

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Apesar disso, os Correios disseram ao jornal O Estado de S. Paulo que não há condenações com trânsito em julgado contra os assessores e não deram detalhes sobre as atribuições deles. 

Envolvimento com fundos de pensão

Os Correios afirmam que nem Júlio Lopes nem Maurício Marcellini atuam na área de previdência complementar. Entretanto, pelo menos Lopes tem aconselhado a direção da estatal quanto aos fundos de pensão da companhia, de acordo com registros verificados pelo Estadão

Em uma reunião recente, Lopes apresentou detalhes de um plano para cobertura do déficit financeiro do Postalis, no qual os Correios se comprometeram a aportar R$ 7,6 bilhões. 

Ademais, ele e Marcellini tiveram papel relevante na gestão de fundos de pensão em governos anteriores, de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Lopes trabalhou no Postalis, fundo de previdência dos Correios, enquanto Marcellini atuou no Funcef, fundo de previdência da Caixa. 

A gestão dos fundos de pensão pelos dois aconteceu em um período marcado por investimentos que resultaram em altos prejuízos. O Postalis estima que aplicações realizadas entre 2011 e 2016 tenham gerado uma perda total de R$ 4,7 bilhões. Corrigido pela inflação e pela meta atuarial da instituição, o valor equivale a R$ 9,1 bilhões.

Presidente dos Correios mantém dois investigados pelo MPF entre os assessoresPresidente dos Correios mantém dois investigados pelo MPF entre os assessores
O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Parte desse déficit ocorreu enquanto Lopes estava no Conselho Deliberativo do fundo, cargo que ocupou até 2013.

Histórico de irregularidades

Lopes recebeu suspensão e multa de R$ 40 mil pela Câmara de Recursos da Previdência Complementar (CRPC), em 2017, diante de um prejuízo estimado de R$ 180 milhões em um negócio imobiliário superfaturado em São Paulo. 

Marcellini, por sua vez, chegou a ser preso preventivamente pela Polícia Federal em 2016, durante a atuação no Funcef. 

Ele também participou da aprovação de um aporte de R$ 350 milhões no Fundo de Investimento em Participações (FIP) Sondas, atrelado a ações da estatal Sete Brasil. A empresa surgiu em governos petistas, para fabricar unidades de perfuração para explorar o pré-sal, mas não teve o êxito anunciado. 

O investimento teria gerado perdas de até R$ 5,5 bilhões aos fundos de pensão, segundo os procuradores que atuaram na Greenfield. Em razão da participação na operação financeira, Marcellini recebeu punição da Câmara de Recursos, em 2022, que vedou a participação dele em fundos de pensão por dois anos. 

Relação com o escritório de advocacia do presidente dos Correios

Antes de se tornar presidente dos Correios, no terceiro mandato de Lula, Fabiano dos Santos foi sócio do escritório Mollo & Silva Advogados Associados, onde sua ex-mulher, Renata Mollo, segue atuante. O escritório, inclusive, representou o Postalis durante o governo de Dilma Rousseff, e Santos defendeu Júlio Lopes em processos administrativos. 

Santos se divorciou de Renata, em novembro de 2022, antes da nomeação para a presidência da estatal. A ex-mulher tem como atuais clientes tanto Júlio Lopes quanto Mauricio Marcellini. 

Renata Mollo afirma que seus clientes são inocentes. Já a assessoria dos Correios declarou ao Estadão que não há conflito de interesse na relação entre o escritório e os dois assessores. 

“Não há conflito de interesse, já que o presidente dos Correios não exerce hoje a advocacia e, quando o fez no passado, sempre atuou na defesa do Postalis, o que continua fazendo como presidente dos Correios, em benefício dos cerca de 160 mil participantes e assistidos do instituto”, diz a nota da assessoria da estatal.

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