Estado e Prefeitura de Niterói entram em rota de colisão sobre fim do Estádio Caio Martins

A Prefeitura de Niterói anunciou, na última semana, que o “abandonado” Estádio Caio Martins (área do campo de futebol), em Icaraí, ganhará uma nova função para o município: servir de piscinão, em uma medida para tentar mitigar os alagamentos históricos na região da Zona Sul de Niterói. No entanto, o o complexo esportivo é de propriedade do governo do estado — que, por sua vez, alega que não há abandono, pelo contrário: o estádio está em pleno funcionamento.

Segundo a prefeitura, a partir das obras de macrodrenagem, todo o volume de água coletado pelas novas redes será depositado em um grande reservatório subterrâneo, que será construído no terreno onde hoje se encontra o campo do Caio Martins. Com área de 130 m x 120 m e capacidade para 80 milhões de litros de água, o reservatório ocupará cerca de dois terços do espaço do campo, incluindo a parte das arquibancadas junto à Rua Presidente Backer, que precisarão ser demolidas.

O plano prevê ainda um parque público no local com quadras de futebol, vôlei, basquete, tênis e academias de ginástica, ou seja, extinguindo o campo de futebol. A elaboração do projeto básico, pela Empresa de Infraestrutura e Obras de Niterói (ION), levou seis meses e considerou a preservação das estruturas dos imóveis de toda a região, que, segundo a prefeitura, não sofrerão qualquer intervenção durante os trabalhos. A licitação para contratar a empresa que executará a obra será lançada ainda no primeiro semestre deste ano.

Cessão é apenas temporária, diz governo do estado

Só que há um impasse. Apesar de confirmar a parceria com a Prefeitura de Niterói, a Secretaria estadual de Esporte e Lazer diz que o estado segue como gestor do estádio. Segundo nota enviada ao TEMPO REAL, o equipamento está em funcionamento, e que a cessão à prefeitura é apenas temporária.

“O estado é o gestor do Caio Martins e vai permanecer gerindo o espaço. De antemão, o governo se coloca à disposição e como parceiro da Prefeitura de Niterói para sanar o problema de alagamento histórico na região. No entanto, qualquer assunto relacionado ao equipamento cabe ao governo do estado definir. Hoje, o complexo esportivo está em funcionamento, oferecendo diversas atividades à população”, diz trecho da nota.

A secretaria ainda ressaltou que, até o momento, está acordado somente a obra de macrodrenagem, que ainda não teve um prazo para início apresentado pelo município. Os possíveis próximos passos, como um novo aproveitamento do espaço e a construção de um parque público, ainda não foram traçados.

‘Um sonho distante’

O Caio Martins esteve por 33 anos sob a gestão do Botafogo, que, nos últimos anos de concessão utilizava o local para treinos das categorias de base e partidas da equipe feminina do clube. A responsabilidade passou a ser do governo do estado em 2021, que alocou a administração do Complexo Esportivo para a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude.

Após o alvinegro deixar de dar aproveitamento ao espaço, especialmente após assumir o Estádio Nilton Santos, na capital, culminando no fim da concessão do Caio Martins, clubes da cidade passaram a manifestar a intenção de mandar jogos no espaço. Contudo, nenhum dos projetos foi à frente, principalmente devido à falta de estrutura no local.

Um deles é o emergente Niteroiense FC, um dos clubes mais tradicionais da cidade, e atualmente disputando a terceira divisão do Campeonato Carioca. Para o CEO, Maicon Vilela, a mudança de perfil do Caio Martins anunciada pela prefeitura pode ser considerada desportivamente ruim, embora reconheça que, para a cidade, a nova utilização do espaço poderia ser importante.

“O Caio Martins era um sonho distante. Existem coisas que infelizmente não conseguimos, a vida é assim mesmo. A gente já não tinha o Caio Martins, então não muda muito”, disse o dirigente.

Procurada pelo TEMPO REAL, a Prefeitura de Niterói, até a publicação desta matéria, não se manifestou sobre o caso. O espaço segue aberto.



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