Nesta segunda-feira, 14 de abril, é comemorado o Dia Mundial do Café. E a relação entre o carioca e a bebida famosa pode ser considerada uma paixão antiga. Tem gente que só acorda de verdade depois do primeiro gole do “café nosso de cada dia”. Outros ainda chamam de vício. Seja coado, expresso, na cápsula, feito em casa ou comprado na padaria da esquina, o café é mais do que uma bebida: é a desculpa para a pausa, ponte para conversa e combustível para enfrentar a rotina.
Para Fabrício da Silva, que trabalha como ambulante no Centro do Rio, justamente vendendo bebidas, o cafezinho antes de sair de casa é obrigatório, para conseguir ter a energia necessária e trabalhar nas ruas da cidade.
“Eu só saio de casa depois de tomar café. Meu café é com açúcar, um pouco forte, com leite. Sempre em casa. Na rua é muito caro”, conta.
Já para Rosângela Marques, professora, o hábito de tomar café a acompanha em qualquer lugar, seja em casa, no trabalho ou na rua. Para ela, a xícara perfeita é sempre assim: com açúcar e bem quente. Rosângela, no entanto, despensa o café gelado: “não gosto”.
Uma paixão carioca

A preferência de Rosângela se reflete também nos clientes da Casa Cavé. A confeitaria localizada na Rua Sete de Setembro, também no Centro, defende o título de mais antiga do Rio. Ela foi criada ainda 1860, pelo francês Charles Auguste Cavé, e até hoje segue lotada de clientes, que sentam em mesas que um dia já foram ocupadas por personalidades como Olavo Bilac, Chiquinha Gonzaga, Carlos Drummond de Andrade e Tarsila do Amaral.
Fabiana Souza, barista da Casa Cavé, diz que o público em geral segue preferindo as versões mais tradicionais. Mas, surpreendentemente, o café do momento na confeitaria é uma opção gelada, preparada com café expresso, sorvete e cobertura de chocolate. Representando, também, uma modernização no hábito.
Segundo o professor Sérgio Ignácio Brum, do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o hábito de tomar café foi incorporado ainda na segunda metade do século XIX, se consolidando, principalmente, pelo encontro e a convivência. Assim, nasceram também as confeitarias do Rio — hoje históricas. E com a expansão cafeeira no estado, o hábito de tomar café entrou de vez no cotidiano do carioca.
“É um hábito que começa pela elite principalmente, pelos intelectuais, por frequentadores desses espaços. E aí ele vai se popularizando principalmente no século XX, mas na segunda metade do século XIX era um hábito mais de uma classe média alta, de uma elite e dos frequentadores desses espaços. E no século XX, esse hábito vai sendo incorporado aos trabalhadores e famílias”, explica.
No Rio, café também é turismo

O professor também destaca que o hábito de tomar café da manhã em casa, por exemplo, é reflexo da produção destinada ao mercado doméstico e da própria industrialização do café no Brasil, que passou a ser vendido em larga escala. Mas além de bebida, hábito e economia, o café também é turismo.
No Estado do Rio, os fãs mais dedicados pode visitar o Vale do Café. A rota é composta por 14 municípios — Barra do Piraí, Barra Mansa, Engenheiro Paulo de Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paracambi, Paty do Alferes, Pinheiral, Piraí, Rio Claro, Rio das Flores, Valença, Vassouras e Volta Redonda.
A região tem a sua história ligada justamente ao ciclo do café, que dominava a economia nacional no século XIX. Foi em função da produção deste produto e a necessidade de seu escoamento que se abriram estradas, construíram portos e se desenvolveram cidades.
Os turistas podem fazer uma viagem pela história do estado e descobrir uma das principais heranças da região, que segue preservada: os cafés coloniais. Servidos nas grandes fazendas, incluem abundante oferta de pães, bolos, doces, biscoitos, frutas, laticínios e derivados.
E a procura é grande. Segundo a Secretaria estadual de Turismo, entre janeiro e abril de 2025, a região do Vale do Café apresentou um desempenho turístico notável, impulsionado por eventos sazonais, como réveillon, carnaval e feriados.
Durante as festividades de fim de ano, as taxas de ocupação hoteleira foram superiores a 90%, destacando-se entre os destinos mais procurados do interior fluminense. Neste carnaval de 2025, Valença acolhendo cerca de 40 mil pessoas, Barra Mansa aproximadamente 35 mil e Barra do Piraí cerca de 20 mil foliões.
Durante o período de junho e julho, alta temporada de inverno, também acontecem os festivais gastronômicos como Festival Sabores do Vale do Café; Festival Delícias do Vale e Festival Vale do Café. Os eventos reúnem gastronomia, cultura, artesanato, shows musicais e claro, o bom e velho cafezinho.