
A Polícia Civil de Governador Celso Ramos abriu investigação para apurar um suposto esquema de cobrança indevida em sepultamentos realizados em um dos cemitérios do município. A denúncia foi revelada pelo Portal Governador e aponta que famílias enlutadas estariam sendo coagidas a pagar valores que variam entre R$ 1.200 e R$ 2.300 para conseguir sepultar seus entes queridos. A cobrança seria feita por um coveiro que atua como servidor público da Prefeitura, com suposta intermediação de terceiros.
Segundo os relatos colhidos, o servidor indicava não haver vagas disponíveis nos cemitérios públicos — a não ser que o pagamento fosse efetuado a uma pessoa indicada por ele. “O coveiro disse que não podia garantir o sepultamento naquele local, mas que, se pagássemos, ele daria um jeito. Ele ainda nos passou o contato da pessoa que receberia o dinheiro”, contou um dos denunciantes à reportagem.
Uma das supostas vítimas, Leonardo Almeida, declarou em comentário no Instagram ter pago R$ 1.200 para garantir o enterro do pai. “Pagamos R$ 1.200 para o coveiro enterrar meu pai e recebemos um recibo. Achamos totalmente errado, mas se não pagasse, não iria acontecer o enterro”, afirmou.
Outro caso envolve Nadia Maggioni, que relatou ter desembolsado R$ 2.300 em janeiro de 2025, quando seu pai faleceu. “O argumento foi que não havia cova pronta e o município estava em situação de emergência por causa das chuvas”, disse.
Há ainda um terceiro depoimento, de uma pessoa que preferiu não se identificar: “Quando meu pai faleceu em 2021, tivemos que pegar dinheiro emprestado pra poder enterrar ele. Cobraram R$ 1.200 na época. Ainda reclamei para o padre e ele disse que era cobrado serviço da Prefeitura.”
A equipe do Portal Governador entrou em contato diretamente com o coveiro apontado nas denúncias. De forma surpreendente, o servidor confirmou a versão apresentada pelas famílias. Além disso, afirmou que o esquema seria de conhecimento do atual secretário de Obras do município. “Pode ligar pra ele e confirmar”, declarou o servidor, chegando a fornecer o telefone de um terceiro, supostamente responsável por “cavar a cova e colocar a carneira” — serviços que, segundo a denúncia, fazem parte das atribuições gratuitas do cargo.
Juristas consultados alertam que, caso as denúncias sejam confirmadas, a conduta pode se enquadrar no crime de concussão — quando um servidor público exige vantagem indevida em razão do cargo que ocupa. O crime está previsto no artigo 316 do Código Penal e pode gerar pena de dois a doze anos de prisão, além de multa.
Notas oficiais
Diante da repercussão, a Prefeitura de Governador Celso Ramos divulgou uma nota afirmando que todos os cemitérios do município são propriedades de igrejas locais e que a administração pública realiza apenas os serviços de escavação e preparação de covas, com autorização dos responsáveis religiosos. Segundo a nota, tais serviços são oferecidos gratuitamente à população.
A Prefeitura reforçou que não realiza construção de túmulos ou carneiras, e que a contratação desses serviços deve ser feita pelas famílias, com profissionais externos. A administração também orientou que qualquer cobrança indevida deve ser denunciada à Ouvidoria Municipal.
Já a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, por meio do pároco Pe. Leandro Souza, emitiu um comunicado esclarecendo que, embora seja proprietária de terrenos onde funcionam os cemitérios, não administra esses locais e, portanto, não possui responsabilidade direta sobre as cobranças ou a gestão dos sepultamentos. Ainda assim, a Paróquia disse que buscará mais informações junto à Prefeitura.
Enquanto isso, a população local aguarda respostas concretas sobre um tema que mexe com a dignidade e o respeito nos momentos mais delicados da vida: a despedida de um ente querido.
“Não dá pra morrer em paz”, desabafou um dos moradores entrevistados.
O post Escândalo em Governador Celso Ramos vira caso de polícia: “não dá pra morrer em paz” apareceu primeiro em Jornal Razão.