Enquanto cresce na população a sensação de desespero pelos incêndios florestais criminosos e descontrolados – com fumaça encobrindo até o sol, ocorrência de chuva preta e ácida e tantos outros problemas sociais, políticos e econômicos atrelados – há brasileiros que, neste momento em que você lê a reportagem, seguem na linha de frente, de forma voluntária, e que merecem, no mínimo, terem suas ideias replicadas por todo o país no enfrentamento a este grave problema.
Depois de nove dias intensos de trabalho contra o fogo na Serra da Mantiqueira (veja o vídeo abaixo), o brigadista voluntário Manno França fez uma breve pausa para contar à reportagem do Metrópoles sobre o trabalho da Brigada Matutu, a primeira a ser criada no Sudeste do Brasil, em 1993, e uma das primeiras a existirem no país.
“É uma brigada comunitária, que surgiu da organização e da necessidade dos moradores do Vale do Matutu, no Sul de Minas Gerais, município de Airoca, na Serra da Mantiqueira. Por já termos problemas com incêndios florestais há muitos anos, a gente começou a se organizar e formamos esta primeira brigada voluntária e conseguimos formalizá-la, em 1995, com a criação da Fundação Matutu. Por meio da fundação começamos a buscar recursos e apoio para comprar equipamentos, melhorar o treinamento das equipes e fortalecer brigadas vizinhas”, explicou o coordenador.
Trabalho 100% voluntário
Segundo ele, o trabalho realizado por lá há 31 anos é 100% voluntário. “A gente acredita que as brigadas voluntárias, que estão no entorno de áreas de conservação, funcionam melhor, para ter uma resposta rápida. E o trabalho é em rede com as brigadas profissionalizadas e com o apoio do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.”
A Brigada Matutu tem como foco de atuação toda a região da Serra da Mantiqueira, especialmente no Parque Estadual da Serra do Papagaio, Parque Nacional de Itatiaia e Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira. “Nossa área de atuação mais imediata é em torno de 10 mil hectares e estamos conectados a outras brigadas na região, como a brigada do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que atende no Parque Nacional de Itatiaia; a brigada profissional que atua no Parque Estadual da Serra do Papagaio; e algumas unidades voluntárias nos vales vizinhos na região dessas unidades de conservação que estão conectadas com a Brigada Matutu.”
Nas redes sociais é possível acompanhar a luta diária do grupo. Em um dos vídeos recentes, postado em 8 de setembro, eles mostraram um pouco da situação no Parque Estadual da Serra do Papagaio, um local de difícil acesso, num cenário agravado pelo forte calor, baixíssima umidade e ventos fortes. “As condições são muito difíceis para as equipes que estavam no combate. Em muitos locais, após o trabalho exaustivo, o fogo reacendia e se propagava rapidamente, com o surgimento constante de novos focos”, descreveu a legenda de um dos inúmeros vídeos da ação. Por mais quatro dias, o trabalho da brigada continuou por lá, com a participação de mais de 50 voluntários das brigadas Matutu, dos Garcias, Vale do Cangalha e Vale do Matutu, além do apoio do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar de MG.
Assista ao vídeo:
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Protegendo o bioma
A Serra da Mantiqueira é protegida pelo bioma Mata Atlântica. Ao longo dos últimos 10 anos, moradores e autoridades locais vêm observando com preocupação o aumento no número de ocorrências de incêndios extremos, causados geralmente nesta época do ano e, a maioria, de forma criminosa, intensificando a seca na região. “Temos notado muito aumento nas temperaturas e períodos de seca muito intensos, o que gera essa condição extrema dos incêndios. Aí, combinado com a ação criminosa dos incendiários e esses efeitos das mudanças climáticas, que têm sido sentidos em todo o Brasil, a gente tem esse cenário triste”, lamentou.
E o coordenador da Brigada Matutu avisa que, para quem não tem ideia de como ajudar, com certeza tem espaço para ser voluntário, “tanto como brigadista como nas redes de apoio das brigadas”. “É uma série de áreas diferentes de ação, de atividades que a pessoa pode se engajar. Como brigadista é fundamental ter treinamento, ter os equipamentos e estar ligado a alguma brigada local ou voluntária para que a ação seja feita com o menor risco, da melhor forma possível”, explicou.
Voluntários de apoio podem, segundo ele, buscar saber o que está ocorrendo na região em que está e se tem alguma forma de ajudar, “às vezes levando as ferramentas, ajudando a levar alimentos, ajudando na comunicação”. Além do Sul de Minas Gerais, a Brigada Matutu também alcança parte do Rio de Janeiro, mas não outros estados.
“Não atuamos em outras áreas, até porque, só esta região já é suficiente para absorver toda a nossa capacidade e ainda fica faltando gente. Mas estamos ligados com a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias, que conecta então todas as brigadas voluntárias do Brasil, nos diferentes biomas do país, todas elas muito engajadas tanto no combate quanto na prevenção”. Segundo, ele, a rede nacional pode facilmente conectar pessoas que querem ajudar às pessoas que precisam de ajuda.
Trabalho voluntário e sem fim
Por meio de projetos e parcerias, a Brigada Matutu formou mais de 500 novos brigadistas e treinou mais de 1.500 voluntários em várias localidades da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, no entorno do Parque Estadual da Serra do Papagaio e em outras unidades de conservação do Brasil, Argentina e Espanha. E eles ficam responsáveis pela vigilância da reserva durante todo o ano.
No período da seca, os brigadistas ativam o sistema de Vigilância e Detecção de Incêndios (VDI) para acompanhar a evolução do fogo criminoso. Na outra parte do ano, ficam focados na prevenção da caça e do turismo desordenado. Para isso, contam também com imagens de drones e câmeras, além de sistema de radiocomunicação que interliga as diferentes brigadas através do projeto de bases comunitárias da Serra do Papagaio.
A região da Serra do Papagaio, onde eles atuam, está dentro do bioma da Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em diversidade biológica no mundo. Cada hectare da Mata Atlântica pode conter até 4 mil espécies de plantas e dezenas de milhares de espécies de animais. “Toda vez que um incêndio atinge uma área dessas é esse tipo de riqueza que está sendo destruída, talvez para sempre”, alerta a brigada.
A prevenção e o combate aos incêndios florestais são, desta forma, o plano mais eficaz de proteger essas áreas e garantir a sua permanência para gerações futuras.
Enquanto cresce na população a sensação de desespero pelos incêndios florestais criminosos e descontrolados – com fumaça encobrindo até o sol, ocorrência de chuva preta e ácida e tantos outros problemas sociais, políticos e econômicos atrelados – há brasileiros que, neste momento em que você lê a reportagem, seguem na linha de frente, de forma voluntária, e que merecem, no mínimo, terem suas ideias replicadas por todo o país no enfrentamento a este grave problema.
Depois de nove dias intensos de trabalho contra o fogo na Serra da Mantiqueira (veja o vídeo abaixo), o brigadista voluntário Manno França fez uma breve pausa para contar à reportagem do Metrópoles sobre o trabalho da Brigada Matutu, a primeira a ser criada no Sudeste do Brasil, em 1993, e uma das primeiras a existirem no país.
“É uma brigada comunitária, que surgiu da organização e da necessidade dos moradores do Vale do Matutu, no Sul de Minas Gerais, município de Airoca, na Serra da Mantiqueira. Por já termos problemas com incêndios florestais há muitos anos, a gente começou a se organizar e formamos esta primeira brigada voluntária e conseguimos formalizá-la, em 1995, com a criação da Fundação Matutu. Por meio da fundação começamos a buscar recursos e apoio para comprar equipamentos, melhorar o treinamento das equipes e fortalecer brigadas vizinhas”, explicou o coordenador.
Trabalho 100% voluntário
Segundo ele, o trabalho realizado por lá há 31 anos é 100% voluntário. “A gente acredita que as brigadas voluntárias, que estão no entorno de áreas de conservação, funcionam melhor, para ter uma resposta rápida. E o trabalho é em rede com as brigadas profissionalizadas e com o apoio do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.”
A Brigada Matutu tem como foco de atuação toda a região da Serra da Mantiqueira, especialmente no Parque Estadual da Serra do Papagaio, Parque Nacional de Itatiaia e Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira. “Nossa área de atuação mais imediata é em torno de 10 mil hectares e estamos conectados a outras brigadas na região, como a brigada do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que atende no Parque Nacional de Itatiaia; a brigada profissional que atua no Parque Estadual da Serra do Papagaio; e algumas unidades voluntárias nos vales vizinhos na região dessas unidades de conservação que estão conectadas com a Brigada Matutu.”
Nas redes sociais é possível acompanhar a luta diária do grupo. Em um dos vídeos recentes, postado em 8 de setembro, eles mostraram um pouco da situação no Parque Estadual da Serra do Papagaio, um local de difícil acesso, num cenário agravado pelo forte calor, baixíssima umidade e ventos fortes. “As condições são muito difíceis para as equipes que estavam no combate. Em muitos locais, após o trabalho exaustivo, o fogo reacendia e se propagava rapidamente, com o surgimento constante de novos focos”, descreveu a legenda de um dos inúmeros vídeos da ação. Por mais quatro dias, o trabalho da brigada continuou por lá, com a participação de mais de 50 voluntários das brigadas Matutu, dos Garcias, Vale do Cangalha e Vale do Matutu, além do apoio do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar de MG.
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Protegendo o bioma
A Serra da Mantiqueira é protegida pelo bioma Mata Atlântica. Ao longo dos últimos 10 anos, moradores e autoridades locais vêm observando com preocupação o aumento no número de ocorrências de incêndios extremos, causados geralmente nesta época do ano e, a maioria, de forma criminosa, intensificando a seca na região. “Temos notado muito aumento nas temperaturas e períodos de seca muito intensos, o que gera essa condição extrema dos incêndios. Aí, combinado com a ação criminosa dos incendiários e esses efeitos das mudanças climáticas, que têm sido sentidos em todo o Brasil, a gente tem esse cenário triste”, lamentou.
E o coordenador da Brigada Matutu avisa que, para quem não tem ideia de como ajudar, com certeza tem espaço para ser voluntário, “tanto como brigadista como nas redes de apoio das brigadas”. “É uma série de áreas diferentes de ação, de atividades que a pessoa pode se engajar. Como brigadista é fundamental ter treinamento, ter os equipamentos e estar ligado a alguma brigada local ou voluntária para que a ação seja feita com o menor risco, da melhor forma possível”, explicou.
Voluntários de apoio podem, segundo ele, buscar saber o que está ocorrendo na região em que está e se tem alguma forma de ajudar, “às vezes levando as ferramentas, ajudando a levar alimentos, ajudando na comunicação”. Além do Sul de Minas Gerais, a Brigada Matutu também alcança parte do Rio de Janeiro, mas não outros estados.
“Não atuamos em outras áreas, até porque, só esta região já é suficiente para absorver toda a nossa capacidade e ainda fica faltando gente. Mas estamos ligados com a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias, que conecta então todas as brigadas voluntárias do Brasil, nos diferentes biomas do país, todas elas muito engajadas tanto no combate quanto na prevenção”. Segundo, ele, a rede nacional pode facilmente conectar pessoas que querem ajudar às pessoas que precisam de ajuda.
Trabalho voluntário e sem fim
Por meio de projetos e parcerias, a Brigada Matutu formou mais de 500 novos brigadistas e treinou mais de 1.500 voluntários em várias localidades da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, no entorno do Parque Estadual da Serra do Papagaio e em outras unidades de conservação do Brasil, Argentina e Espanha. E eles ficam responsáveis pela vigilância da reserva durante todo o ano.
No período da seca, os brigadistas ativam o sistema de Vigilância e Detecção de Incêndios (VDI) para acompanhar a evolução do fogo criminoso. Na outra parte do ano, ficam focados na prevenção da caça e do turismo desordenado. Para isso, contam também com imagens de drones e câmeras, além de sistema de radiocomunicação que interliga as diferentes brigadas através do projeto de bases comunitárias da Serra do Papagaio.
A região da Serra do Papagaio, onde eles atuam, está dentro do bioma da Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em diversidade biológica no mundo. Cada hectare da Mata Atlântica pode conter até 4 mil espécies de plantas e dezenas de milhares de espécies de animais. “Toda vez que um incêndio atinge uma área dessas é esse tipo de riqueza que está sendo destruída, talvez para sempre”, alerta a brigada.
A prevenção e o combate aos incêndios florestais são, desta forma, o plano mais eficaz de proteger essas áreas e garantir a sua permanência para gerações futuras.
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