

A realidade dos moradores dos territórios conflagrados do Rio de Janeiro, onde há domínio e disputa por pontos de vendas de drogas e práticas comerciais ilegais é um inferno na terra, ou quase.
Uma operação policial realizada no Complexo no Alemão, na Zona Norte da cidade, teve até caveirão deslizando em óleo diesel e batendo em carros estacionados em uma das vias.
Em outras, o saldo foi de carros queimados, ônibus apedrejados e várias ruas bezuntadas de óleo diesel, para que os policiais não pudessem entrar nas favelas.
Mas não é só a Polícia que acessa as favelas, os moradores também são prejudicados, sejam condutores sejam pedestres.
Um vídeo postado no perfil Plantão Zona Oeste dá um demonstrativo do que passam os trabalhadores que moram nessas localidades.
Na gravação, uma mulher desce uma ladeira do complexo de favelas, nesta quarta-feira (15), à luz do dia. Um homem que vinha atrás dela registrava o cenário de guerra, com carros retorcidos pelo fogo pelo caminho.
Outro homem aparece no enquadramento e faz comentários sobre os carros queimados pelos bandidos, os quais ele diz que lhe darão trabalho para retirar depois. Ele desce a ladeira pelo lado esquerdo da calça malconservada.
Enquanto isso, à frente, vai a mulher, arrumada para trabalhar. Ela desce a ladeira pelo pedaço sujo de óleo. Apesar do cuidado, de repente cai e fica toda suja.
Ela levanta sozinha e tira os chinelos, os quais carrega nas mãos. Sem poder parar, ela segue em frente.
Um dos homens diz: Tem que ir pelo cantinho. Ela só confirma. Não pode parar. Enquanto ultrapassam um cenário, com óleo diesel e entulho.
Em um dado momento, fica difícil ir pelo “cantinho”. Um dos homens diz para ela voltar para casa, pois está muito suja pela porcalhada feita pelos bandidos. Ela diz que não volta. Claro, não pode parar.
Mas o homem insiste e aponta um ferimento – um rasgo no braço – produzido pela queda na porcalhada feita pelos criminosos. Ela diz: “Não tem como”. Ela não pode parar.
Assim é a realidade dos trabalhadores que moram nas mais de mil favelas conhecidas do Rio de Janeiro. Cada com as suas agruras e pequenas alegrias.
Umas mais calmas outras o inferno na terra. Para o morador, a pessoa comum, a realidade é sempre a mesma: Não pode parar.


