O Decálogo de Ulysses Guimarães: Um guia essencial para escolher candidatos

Em complemento ao artigo publicado neste Diário do Rio, no dia 4 de agosto, intitulado “Escolha consciente: a importância de votar em candidatos competentes e evitar o culto à personalidade” – , resolvi trazer mais algumas recomendações que ajudem o eleitor na escolha de  um Vereador ou Prefeito que represente as necessidades da população. 

Com a aproximação das eleições, os eleitores enfrentam o desafio de escolher seus representantes. Ulysses Guimarães, uma das grandes figuras da política brasileira, nos deixou um legado em forma de decálogo que pode ser extremamente útil para essa tarefa. Este Decálogo do Estadista resume as principais qualidades que os líderes devem ter, servindo como um guia valioso para avaliar as propostas e posturas dos candidatos. A seguir, explico cada item desse decálogo:

1. Coragem

Um verdadeiro líder deve ter coragem. Não se trata apenas de enfrentar desafios, mas de tomar decisões difíceis, mesmo que isso coloque em risco sua popularidade, liberdade ou até sua vida. Um líder sem coragem jamais será capaz de agir em momentos de crise, quando a nação mais precisa.

2. Vocação

A política não é uma profissão comum; é uma missão. O verdadeiro estadista nasce com o desejo de servir ao bem público. Para ele, não há outra ocupação que traga tanta realização pessoal, mesmo diante de todos os desafios que o ofício impõe.

3. Talento

O estadista deve possuir talento político, algo que não se aprende nas escolas. Ele precisa ter o dom de tomar decisões acertadas que beneficiem a população, mesmo que não tenha grande formação acadêmica.

4. Caráter

O político de caráter é fiel às suas ideias, não ao poder. Ele não cede às tentações do oportunismo, sendo sempre fiel ao que acredita, mesmo que isso lhe custe sua posição. Um líder verdadeiro coloca o bem do país acima de suas próprias ambições.

5. Sorte

Um fator muitas vezes subestimado, mas que, segundo Ulysses, é essencial. A sorte, ou o favorecimento das circunstâncias, pode determinar o sucesso ou o fracasso de um líder. Mesmo com todas as qualidades, sem sorte, o político pode ver sua carreira frustrada.

6. Esperança

Um líder deve ser o arquiteto da esperança. Ele precisa inspirar a população, mostrando caminhos e soluções, e não ser um profeta de desastres. A capacidade de transmitir confiança e esperança é fundamental para qualquer estadista.

7. Paciência

A impaciência pode ser fatal para um político. É preciso ter a calma necessária para tomar decisões no tempo certo, ouvir os outros e saber lidar com críticas e pressões. Um bom estadista não age por impulso, mas com ponderação.

8. “Não servirás a dois senhores”

A política exige dedicação exclusiva. Um líder político não pode dividir sua atenção com outras atividades ou interesses. Para cumprir plenamente sua missão, ele precisa se entregar completamente à causa pública.

9. Autoridade

A autoridade de um político não é algo que se adquire com o cargo, mas uma qualidade pessoal. Ela se manifesta na forma como o líder é respeitado e seguido. O verdadeiro estadista comanda não apenas com palavras, mas com sua própria presença.

10. Ordem

Governar é estabelecer prioridades e seguir uma hierarquia de necessidades. Um líder que não sabe identificar o que é mais urgente e importante dificilmente conseguirá resolver os problemas da sociedade. A ordem não é apenas uma questão de organização, mas de justiça.

Esse decálogo oferece um conjunto de critérios que podem ser utilizados pelos eleitores na hora de escolher seus candidatos nas próximas eleições. Ao avaliar cada político à luz desses princípios, é possível fazer escolhas mais conscientes e alinhadas com o futuro que se deseja para o país.

Quem quiser conhecer a íntegra desse Decálogo pode o fazer acessando o seguinte sítio:

“Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior. E pior, e pior…”. Foi com essas palavras que Ulysses Guimarães, em 1991, alertou um jovem jornalista sobre o futuro incerto da política brasileira. A frase, divulgada por Luís Costa Pinto, reflete a percepção crítica e realista de Ulysses sobre o Parlamento e sua preocupação com a qualidade da representação política no Brasil. Sua visão se mostrou profética, especialmente no contexto atual, onde a crise de representatividade marca o cenário político.

Desde o início de sua carreira, Ulysses já mostrava talento como orador. Cada vez que tinha uma ideia, onde quer que estivesse, anotava em tiras de papel, que carregava nos bolsos do paletó. Dessas anotações, saíram documentos, discursos e frases que hoje ocupam lugar de destaque na história brasileira.

Ulysses Guimarães, nascido em 16 de outubro de 1916, foi uma figura central na história política do Brasil. Advogado, professor e parlamentar, ele dedicou sua vida à luta pela democracia e pelos direitos dos brasileiros. Durante mais de quatro décadas como deputado federal, foi protagonista de momentos decisivos, como a liderança da oposição à ditadura militar e sua atuação como presidente da Assembleia Nacional Constituinte, que resultou na promulgação da Constituição de 1988.

Conhecido como “Senhor Diretas”, Ulysses foi uma voz firme em defesa das liberdades civis e da reconstrução democrática. Ele acreditava que a política deveria sempre servir à sociedade e que o Estado de Direito era fundamental para a dignidade humana. Como ele mesmo dizia: “É para o homem, na fugacidade de sua vida, mas na grandeza de sua singularidade no universo, que devem voltar-se as instituições da sociedade.”

Durante o processo de impeachment do então presidente Fernando Collor, conhecido como o “caçador de marajás” de Alagoas, Ulysses Guimarães mais uma vez demonstrou sua firmeza e seu característico humor ácido. Ao ser chamado de “senil e desequilibrado” por Collor, Ulysses respondeu com sagacidade: “Sou velho, mas não sou velhaco (…) Os remédios que tomo não me criam problemas com a polícia, pois são comprados em farmácia.” Essa resposta, proferida em 19 de setembro de 1992, evidenciou que, apesar das críticas relacionadas à sua idade, Ulysses mantinha-se plenamente lúcido e ativo, reafirmando sua força e relevância política. 

Esse episódio nos leva a refletir sobre o idadismo, ou etarismo, que é o preconceito contra as pessoas mais velhas, uma discriminação baseada unicamente na idade. Como lembra um provérbio da cultura africana: “Quando um ancião morre, uma biblioteca queima.” Esta metáfora ressalta a importância dos mais velhos na preservação do conhecimento e da sabedoria coletiva.

Ulysses também tinha uma visão clara sobre a ética na política. Ele sintetizou sua moral pública em uma frase que se tornou célebre: “Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública.” 

A morte de Ulysses Guimarães ocorreu de forma trágica em 12 de outubro de 1992, em um acidente de helicóptero ao largo de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Além de sua esposa, Dona Mora, outras três pessoas morreram no acidente, e o corpo de Ulysses nunca foi encontrado. Apesar de sua partida, seu legado permanece vivo. Suas palavras continuam a ecoar, como um alerta para a necessidade de integridade e compromisso no serviço público.

Ulysses sempre acreditou no poder da sociedade e da política. “A sociedade sempre acaba vencendo”, dizia ele, demonstrando sua fé inabalável na capacidade do povo de transformar o país. Como ele sabiamente afirmou: “Quem não se interessa pela política, não se interessa pela vida.” 

Seu exemplo permanece como uma lembrança do quanto a política pode e deve servir ao bem comum, e da importância de não nos afastarmos desse dever cívico fundamental.

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