O DIÁRIO DO RIO é um portal carioca. O foco do noticiário é no Estado do Rio, mas precisamos falar sobre o fenômeno Pablo Marçal. E se você está lendo esta coluna, é porque o nosso editor não me censurou.
A participação de Pablo Marçal nos debates para a prefeitura de São Paulo tem despertado o interesse de políticos, jornalistas e eleitores de todo o Brasil. Sem receio, ele joga para o tudo ou nada! E tem recebido apoio entusiasmado de uma multidão de seguidores nas redes sociais, onde costuma postar recortes das suas performances em estilo lacrador.
Analistas mais tradicionais julgam sua atuação com a mesma régua dos políticos convencionais. Consideram seu estilo uma bizarrice. Mas o fato é que Marçal está crescendo nas pesquisas, especialmente entre eleitores bolsonaristas e jovens.
Marçal já entendeu que existe um espaço enorme para outsiders. Ao mesmo tempo, sabe que, apesar de o atual prefeito ter recebido o apoio formal de Bolsonaro, o ex-presidente não está empenhado na candidatura de Ricardo Nunes. Mais do que isso, Nunes não tem identidade com o eleitor bolsonarista. Encurralado por Marçal, o prefeito tenta apostar no lado “gestor”, mas o que Nunes, que assumiu a cadeira sem votos, reflete mesmo é insegurança.
Uma insegurança que contrasta com a combatividade do oponente que está à sua direita. Marçal ataca o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, usando expressões marcantes como: “PT Kids”, “apoiador do Hamas”, “escória da sociedade”, “aspirador de pó”, para delírio da torcida bolsonarista. Marçal já conseguiu desestabilizar Boulos. No debate promovido por “Estadão”, “Terra” e “FAAP”, os dois quase foram às vias de fato após Marçal provocar Boulos com sua carteira de trabalho. Os vídeos postados nas redes sociais de Marçal usam a situação para fazer alusão a um “exorcismo” do candidato da esquerda e, ainda, um duelo entre o “Comedor de Açúcar” e “Ultraman”.
O fato é que Marçal está retendo a atenção do eleitor enquanto seus adversários observam incrédulos sua performance exótica e seu crescimento nas pesquisas. Pablo Marçal não é bobo e seus métodos são calculados. Ele sabe que, para governar São Paulo, é preciso mais do que lacração na internet. Mas também sabe que existe um árduo caminho até o segundo turno. Seu primeiro desafio é chegar lá, e ele construiu uma estratégia para isso. E se não for “desconstruído”, ouso apostar que ele vai alcançar o objetivo e, finalmente, poderá se dedicar a um debate propositivo e de maior qualidade.