Saiba por que onça que devorou caseiro não pode voltar para a natureza

A onça-pintada que devorou um caseiro no Pantanal não poderá mais voltar à natureza. O animal, um macho já adulto, foi transferido na última segunda-feira (19/5) para o Instituto Ampara Animal, em São Paulo, onde viverá em cativeiro pelo resto da vida. O caso, que chocou moradores da região e teve ampla repercussão, levantou uma questão complexa: o que fazer com predadores que atacam humanos?

Apesar da gravidade do ataque — um dos raríssimos registros de predação por onça-pintada no Brasil —, especialistas afirmam não haver protocolo automático para remoção ou execução desses animais. Conforme o biólogo Carlos Eduardo Nóbrega, ataques de onça a humanos são extremamente incomuns e não caracterizam, por si só, um comportamento reincidente ou “viciado”.

“Diferente de alguns felinos, como leões que já se adaptaram a se alimentar de carne humana em certas regiões do mundo, não há registro de onças que tenham se especializado nisso. Ou seja, o caso é grave, mas isolado”, explica.

Segundo o biólogo, a permanência ou não do animal no habitat natural depende de uma série de fatores, como o contexto do ataque, a proximidade com áreas urbanas e a capacidade dos órgãos ambientais de monitorar a situação com segurança. Em algumas circunstâncias, medidas de contenção, como cercamentos e restrições de acesso, são suficientes para evitar novos conflitos sem a necessidade de retirada do animal.

“Essa avaliação é feita principalmente por órgãos como o Ibama ou secretarias estaduais de meio ambiente. Mas, muitas vezes, é a pressão pública que acaba determinando o desfecho do caso”, afirma Carlos Eduardo.

Pressão pública e riscos para o animal

No caso da onça que atacou o caseiro, apelidado de Jorginho, a comoção provocada pelo ataque levou à remoção imediata do animal. O animal foi capturado há cerca de 25 dias e anteriormente estava no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande (MS).

Embora o cativeiro seja visto como solução definitiva para evitar novos riscos à população, não é considerado ideal do ponto de vista da conservação. Em geral, os animais removidos são transferidos para áreas mais preservadas, longe da presença humana. No entanto, isso também pode trazer desafios.

“Quando o animal é solto em um novo território, ele pode acabar entrando em conflito com outras onças que já dominam aquele espaço. Isso representa um risco real de disputa, ferimentos ou até morte”, explica o biólogo.

No caso da onça em questão, optou-se por um ambiente controlado, com acompanhamento veterinário e alimentação garantida. No instituto, ela será mantida em um espaço com estrutura adequada e não voltará a ter contato com áreas de uso humano.

Segundo a instituição que cuidará do animal, o recinto da onça receberá um “upgrade” na área aquática, “em respeito às origens pantaneiras do animal” e ao seu hábito de nadar e circular por áreas alagadas.

O espaço do animal não será aberto à visitação e terá foco absoluto a “recuperação física e emocional do indivíduo, promovendo o máximo de bem-estar possível em um contexto de cativeiro.”

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Onça que matou caseiro

Divulgação/ Instituto Ampara Animal

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Anteriormente, o felino estava no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande (MS).

Divulgação

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Atualmente, o Instituto Ampara Animal, onde a onça foi transferida, cuida de mais oito onças

Divulgação

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Onça que matou e devorou caseiro

Reprodução

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Filhote tem cerca de 6 meses

Reprodução

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Exames constatam que onça capturada está em estado de saúde grave

Reprodução

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Durante o período que esteve no CRAS, o animal, de aproximadamente 9 anos, passou por exames de raio-x, ultrassom e hemograma

Divulgação

Saúde como fator

Outro ponto decisivo para a permanência da onça em cativeiro foi seu estado de saúde. Exames indicaram que o animal estava com baixo peso e órgãos comprometidos. Para Carlos Eduardo, a condição física do felino pode justificar, em certos casos, a permanência temporária em cativeiro, entretanto a decisão é delicada e precisa ser tomada com cautela.

“Se a onça estiver realmente debilitada, uma das opções é mantê-la em cativeiro para tratamento e ganho de peso, com posterior soltura. Mas isso deve ser muito bem avaliado, porque o estresse do cativeiro pode piorar o quadro, especialmente em um animal adulto de vida livre”, afirma.

Segundo ele, a preferência é sempre por tratamentos rápidos em campo, sem necessidade de confinamento, como aplicação de soro, vitaminas e alimentação forçada com comidas hipercalóricas.

“Não existe receita de bolo. Cada caso é um caso”, reforça.

Um caso raro, mas que acende alerta

Embora o Brasil tenha avançado em políticas de preservação da onça-pintada, atualmente considerada espécie vulnerável, o desmatamento e a ocupação irregular continuam a pressionar o habitat desses animais.

Apesar de não haver indícios de que a onça atacaria novamente, o retorno à natureza foi descartado como medida de precaução. A decisão, segundo os técnicos envolvidos, buscou preservar tanto a segurança da população quanto o bem-estar do animal.



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A onça-pintada que devorou um caseiro no Pantanal não poderá mais voltar à natureza. O animal, um macho já adulto, foi transferido na última segunda-feira (19/5) para o Instituto Ampara Animal, em São Paulo, onde viverá em cativeiro pelo resto da vida. O caso, que chocou moradores da região e teve ampla repercussão, levantou uma questão complexa: o que fazer com predadores que atacam humanos?

Apesar da gravidade do ataque — um dos raríssimos registros de predação por onça-pintada no Brasil —, especialistas afirmam não haver protocolo automático para remoção ou execução desses animais. Conforme o biólogo Carlos Eduardo Nóbrega, ataques de onça a humanos são extremamente incomuns e não caracterizam, por si só, um comportamento reincidente ou “viciado”.

“Diferente de alguns felinos, como leões que já se adaptaram a se alimentar de carne humana em certas regiões do mundo, não há registro de onças que tenham se especializado nisso. Ou seja, o caso é grave, mas isolado”, explica.

Segundo o biólogo, a permanência ou não do animal no habitat natural depende de uma série de fatores, como o contexto do ataque, a proximidade com áreas urbanas e a capacidade dos órgãos ambientais de monitorar a situação com segurança. Em algumas circunstâncias, medidas de contenção, como cercamentos e restrições de acesso, são suficientes para evitar novos conflitos sem a necessidade de retirada do animal.

“Essa avaliação é feita principalmente por órgãos como o Ibama ou secretarias estaduais de meio ambiente. Mas, muitas vezes, é a pressão pública que acaba determinando o desfecho do caso”, afirma Carlos Eduardo.

Pressão pública e riscos para o animal

No caso da onça que atacou o caseiro, apelidado de Jorginho, a comoção provocada pelo ataque levou à remoção imediata do animal. O animal foi capturado há cerca de 25 dias e anteriormente estava no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande (MS).

Embora o cativeiro seja visto como solução definitiva para evitar novos riscos à população, não é considerado ideal do ponto de vista da conservação. Em geral, os animais removidos são transferidos para áreas mais preservadas, longe da presença humana. No entanto, isso também pode trazer desafios.

“Quando o animal é solto em um novo território, ele pode acabar entrando em conflito com outras onças que já dominam aquele espaço. Isso representa um risco real de disputa, ferimentos ou até morte”, explica o biólogo.

No caso da onça em questão, optou-se por um ambiente controlado, com acompanhamento veterinário e alimentação garantida. No instituto, ela será mantida em um espaço com estrutura adequada e não voltará a ter contato com áreas de uso humano.

Segundo a instituição que cuidará do animal, o recinto da onça receberá um “upgrade” na área aquática, “em respeito às origens pantaneiras do animal” e ao seu hábito de nadar e circular por áreas alagadas.

O espaço do animal não será aberto à visitação e terá foco absoluto a “recuperação física e emocional do indivíduo, promovendo o máximo de bem-estar possível em um contexto de cativeiro.”

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Onça que matou caseiro

Divulgação/ Instituto Ampara Animal

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Anteriormente, o felino estava no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande (MS).

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Atualmente, o Instituto Ampara Animal, onde a onça foi transferida, cuida de mais oito onças

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Onça que matou e devorou caseiro

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Filhote tem cerca de 6 meses

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Exames constatam que onça capturada está em estado de saúde grave

Reprodução

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Durante o período que esteve no CRAS, o animal, de aproximadamente 9 anos, passou por exames de raio-x, ultrassom e hemograma

Divulgação

Saúde como fator

Outro ponto decisivo para a permanência da onça em cativeiro foi seu estado de saúde. Exames indicaram que o animal estava com baixo peso e órgãos comprometidos. Para Carlos Eduardo, a condição física do felino pode justificar, em certos casos, a permanência temporária em cativeiro, entretanto a decisão é delicada e precisa ser tomada com cautela.

“Se a onça estiver realmente debilitada, uma das opções é mantê-la em cativeiro para tratamento e ganho de peso, com posterior soltura. Mas isso deve ser muito bem avaliado, porque o estresse do cativeiro pode piorar o quadro, especialmente em um animal adulto de vida livre”, afirma.

Segundo ele, a preferência é sempre por tratamentos rápidos em campo, sem necessidade de confinamento, como aplicação de soro, vitaminas e alimentação forçada com comidas hipercalóricas.

“Não existe receita de bolo. Cada caso é um caso”, reforça.

Um caso raro, mas que acende alerta

Embora o Brasil tenha avançado em políticas de preservação da onça-pintada, atualmente considerada espécie vulnerável, o desmatamento e a ocupação irregular continuam a pressionar o habitat desses animais.

Apesar de não haver indícios de que a onça atacaria novamente, o retorno à natureza foi descartado como medida de precaução. A decisão, segundo os técnicos envolvidos, buscou preservar tanto a segurança da população quanto o bem-estar do animal.

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